Po(e)mar

Meu senho peço licença

Meu senhor peço licença
Peço licença pra chegar
Pra você que ainda pensa
Que a cozinha é meu lugar
Meu Senhor não se iluda
Que eu também sei cozinhar
Vatapá, acarajé
Mungunzá e abará
Mas que nem a Doze Homens
Eu também posso jogar
Já não digo com os doze
Mas com um posso jogar
Por isso meu camarada
Ouça bem o que eu lhe digo
Ser mulher não é defeito
Nem ser homem é garantia
Na roda de capoeira
Não vale só valentia


Dona Isabel

Dona Isabel, que história é essa
De ter feito abolição?
De ser princesa boazinha
Que acabou com a escravidão?
Estou cansado de conversa
Estou cansado de ilusão
Abolição se fez com sangue
Que inundava esse país
Que negro transformou em luta
Cansado de ser infeliz
A abolição se fez bem antes
Ainda se faz agora
Com a verdade das favelas
Não com as mentiras da escola
Oh! Isabel, chegou a hora
De se acabar com esse maldade
E de ensinar pra nossos filhos
O quanto custa a liberdade
Viva Zumbi, nosso guerreiro
Que fez-se héroi lá em Palmares
Viva a cultura desse povo
A liberdade verdadeira
Que já corria nos Quilombos
Que já jogava capoeira



IMPÉRIO DOS SENTIDOS

Pelo toque da língua na pele dos lábios
Pelo cheiro do gozo e bom gosto do tato
Pela doce saliva na hora do orgasmo
Pelo semem do pênis na boca de todos os machos

o machismo deve ser castrado

Pelo fim das Igrejas e seus cadeados
E que todos os bispos sejam excomungados
Com um beijo azedo, nu-peito-amargo
o machismo deve ser castrado

Sem que deixe nos olhos um gosto salgado
Em nome do pai, do filho e do proprietário
Pelo cavalheirismo dos que nos enganaram
o machismo deve ser castrado
Se de tão indecentes são tão "delicados"
o machismo deve ser castrado

Pela vontade dos homens em realizá-lo
o machismo deve ser castrado
Pelos himens que os homens já estupraram
Pela porra expelida de dentro do falo
Pelo íntimo e interno-afeto do escarro
o machismo deve ser castrado
Por um gemido intenso e inenarrável
Se os cinco sentidos se completam de fato
Sem-vergonha do cio que nasce do ofato
Descobrindo a nudez nas coisas do tato
Esquecidas de canto no canto dos quartos
o machismo deve ser castrado


Pelo amor dos amantes e amores roubados
Pra que seja visível, o invisível diálogo
Por todos, os clitóris que foram cortados
Pelas dores do parto, a mais lamentável
o machismo deve ser castrado

Pra acabar com as leis e o contrato do Estado
Para que não existam mais fortes e fracos
E pelo fim do silêncio em cárcere privado
o machismo deve ser castrado

Pra que toda mulher desperte ao afago
Ao romper as fronteiras do inviolável
No bico do seio, do ventre ao braço
o machismo deve ser castrado

Para que o sexo, em fim, torne-se incontrolável
o machismo deve ser castrado


Pra que toda impotência vá pro caralho
Por este prazer tão miserável
Por todos os dias, inclusive 8 de março
Antes que ocorra o inevitável...

(Patrick Monteiro)


TUDO TEM LIMITE

No começo a coisa era boa
Não tinha terço nem capelas
Foi então que chegarem as caravelas
Eles roubaram nossas terras
E até hoje nos oprimem
Tudo tem limite!

Nosso povo resistiu
Apesar de Pindorama ter virado Brasil
Levaram nosso ouro,
Nosso trabalho,
Nossa natureza,
Quem lucrou foi a nobreza e
Também foi a elite
Tudo tem limite.
Na África foram sequestrar
Mão-de-obra pra escravizar
Minhas origens quiseram apagar,
E antes mesmo de resolverem nos soltar
Pra Palmares fomos nos refugiar
Não repartiram com gente
Terra, educação nem dignidade.
Estupraram nossas mulheres,
Nossas mães e nossas filhas
Como podemos perdoar?
Eu agora estou aqui,
Quero mais é limitar.

Vamos apelar para a intercessão
Da Nossa Senhora da Constituição
Se ela olhasse a realidade
Veria a morte e a escravidão.
Em nome da propriedade.
Se o direito a vida é inviolável.
Por que isso ainda existe?
Tudo tem limite.

A qualidade da nossa comida.
Tem que estar garantida.
A terra não pode ficar submetida,
Ao interesse Capetalista.
Com latifúndio não existe Soberania.
Então que o latifundiário,
Vá pra casa do diabo
Onde é o seu lugar.
Porque o tamanho da propriedade
Nós vamos limitar
Para um dia quem sabe
Com ela acabar!

(PRISCILA SOUZA)


A VIZINHA ROSA
Com certeza ela é muito mais madura,
Tem mais energia e ama a vida!
Amendronta as faces de quem passa em seu caminho
É autêntica e sabe bem o que quer.
Sua maneira decidida incomoda.
Sua objetividade não é grosseira, pelo contrário, é dócil e tolerante.
Seu olhar perspicaz atrai amantes.
Eles gostam de sua companhia.
Elas sempre se encantam e se identificam.
Apesar de sua agradável presença
E de sua intensa crença na liberdade do ser,
Já não suporta a dor de dizer adeus.
Pois, se vê sozinha e fragilizada.
Suas asas de andorinha foram cortadas,
Agora, ela tem medo de voar.

(PRISCILA SOUZA)


HABEAS CORPUS
Santa...
É aquela que aceita
Outro cristo negro
Outro filho seu
Ser assassinado?
Ninguém
Pode ser morto

Se ainda (Ha) feto,
For abortado
Mas Bíblia reprime
E El Padre proíbe
Que o aborto das virgens
Venha tirar os pecados do mundo
O pênis da Igreja
Criou o hímen.
E os homens
Disseram amém...
Então tornou-se crime
Do útero,
Expelir o sêmen
Ave Maria,
Quanta desgraça...
Se gozasses conosco
Bendito seria o fruto
De vosso ventre na cruz?
(Patrick Monteiro)

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