Que tal alguém aproximar-se de você, agarrá-la por trás e sussurrar em seu ouvido “você é a coisa mais gorda que eu já vi”. Logo depois, pula em cima de suas costas e a segura como se estivesse montando um touro e grita “pula, gorda bandida”. Os amigos riem e se empolgam, contando os segundos do “peão” montado na gorda escolhida para ser o “touro do rodeio”. A regra é ficar oito segundos segurando-a. O peão ganha mais pontos se ficar com apenas uma mão, e, se por acaso você for bem gorda, o peão pode ganhar o prêmio – um sanduíche gigante. Depois da prova, o “garanhão-peão” volta-se aos amigos e consagra-se ao deixá-la sob risadas e dedos de aprovação ao ato.

Mas para que o alarde? É “apenas uma brincadeira”, dizem os estudantes e defensores da prática. E o que não faltam são defensores.
(Grandes Mulheres)
A criação de um padrão estético imposto às mulheres e a naturalização de sua imagem enquanto um objeto de consumo e prazer para terceiros também fortalece ações como a do InterUnesp. As indústrias de cerveja, como a Skol, um dos patrocinadores desse evento, explora a imagem da mulher na TV como objeto sexual. A mídia burguesa com suas novelas e programas lavam as mentes da sociedade impregnando valores e padrões que sirvam tão somente para o enriquecimento de empresários, o consumo, o adestramento de acordo com a ideologia burguesa e o adoecimento. O controle da sexualidade e dos corpos imposto no capitalismo é responsável também pela proeminência de novas enfermidades, a anorexia, a bulimia, a depressão.
O evento de "integra-agressão", promovido pelas Atléticas (organização estudantil que teve origem no período militar, com o objetivo de desviar a atenção d@s estudantes das questões políticas, disputar espaço e fragmentar o Movimento Estudantil, que sempre se posicionou contrário e resistente ao regime da época), era para ser, pelo menos no discurso, jogos de integração entre os campis da UNESP, acontece todos os anos com total consentimento da Universidade, mas há tempos que esse evento se caracteriza por trocas de violências e agressões, haja visto os "hinos" reproduzidos pelos estudantes e pelas estudantes, com letras extremamente machistas e homofóbicas. Felizmente desta vez, denunciaram uma das diversas formas de violência que acontecem no chamado Interunesp.
São diversas as formas de violência contra as mulheres e homossexuais em nossa sociedade, e a barbárie desse "rodeio de gordas" é expressão nefasta da naturalização da violência contra as mulheres, um episódio orquestrado com premeditação pela internet, sem que nenhum dos agressores tenha sido punidos até o momento. É essa juventude adestrada pelos valores conservadores, reacionários, e burgueses, que ateia fogo em índios, que espanca empregadas domésticas, que joga calouros ao afogamento, que agride homossexuais e que monta em mulheres como se fossem gado; que “brinca” com a vida dos setores oprimidos da sociedade e que mata.
Na ocasião, um grupo de estudantes agrediu e humilhou alunas em um jogo batizado de “rodeio das gordas”. A "brincadeira", criada para ridicularizar mulheres obesas, consistia em se aproximar de uma garota, de como em uma paquera, dizer "Você é a menina mais gorda que eu já vi", agarrá-la e tentar ficar sobre elas o máximo de tempo possível. O “jogo” foi divulgado em site de relacionamento. A Universidade deu início a processo disciplinar e a promotora de Justiça em Araraquara, Noemi Correa, abriu inquérito sobre o caso. Segundo ela, os responsáveis podem ser penalizados por violência física, psicológica, assédio moral e crimes de discriminação e preconceito. tratar desse episódio simplesmente como bullyng é uma interpretação generalizadora, é preciso dar nome aos "bois", qualificar, diversas entidades e organizações estão se mobilizando, para que o caso seja enquadrado na Lei Maria da Penha, abaixo uma nota de repúdio da Rede Feminista de Saúde:
Nota Pública
Discriminação é uma forma de violência contra as mulheres
O Caso da Unesp (Araraquara, SP)
Entre as muitas manifestações de violência contra as mulheres, a humilhação, a depreciação e menos valia em razão de aparência estão entre as mais freqüentes, porém menos reconhecidas. No entanto, a violência simbólica produz estigmas, sendo uma forma de discriminação há muito considerada pela Convenção pelo Fim da Todas as Formas de Discriminação a Mulher (1984), Convenção de Belém do Pará (1995) e pela Lei Maria da Penha (2006), como violação de direitos humanos, devendo ser denunciada, enfrentada e eliminada.
Neste sentido, Campanha Ponto Final na Violência Contra as Mulheres e Meninas, da qual são parceiras a Rede Feminista de Saúde, que coordena nacionalmente, e o Observatório pela Implementação da Lei Maria da Penha, vem a público para denunciar e reprovar a realização do que ficou conhecido como “ rodeio de gordas” no interior de São Paulo, e apoiar as providencias da promotora Noemi Correa, de Araraquara. A promotora quer a apuração de uma “competição" organizada por um grupo de alunos da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e que foi batizada de "Rodeio das Gordas".
Estas manifestações são consideradas inaceitáveis, revelam padrões culturais identificados com a intolerância social e a valorização de modelos únicos de beleza. Propõem a inibição social de jovens e mulheres adultas, produzindo prejuízos à sua identidade e afirmação social. Não faz muito, outra universidade paulista foi palco de deploráveis cenas de discriminação de uma jovem por usar uma saia considerada por alguns colegas como curta demais. Razão pela qual foram condenados pela opinião publica nacional e também pela justiça.
Para que este tipo de manifestação seja repudiado e condenado pela sociedade e estes jovens tomem consciência de que suas atitudes afrontam a Lei Maria da Penha e violam o direito humano a uma identidade livre de coerção e escárnio, defendemos a aplicação da Lei e de medidas disciplinares por parte da Unesp. É sim, intolerável que uma instituição de ensino permita que tais manifestações venham a ocorrer em suas dependências ou se tornem públicas por seus alunos sem que haja medidas adequadas, no sentido educativo.
É o que esperamos e pelo que estaremos vigilantes e lutando.
Pelo fim da violência contra as mulheres.
Pela aplicação da Lei Maria da Penha.